Expedia Team, em March 11, 2015

O que as mulheres precisam saber antes de dar a volta ao mundo

Sempre recebemos mensagens de mulheres me perguntando: como você teve coragem de largar sua profissão para viver no carro? Como faz para se cuidar? Como manter o casamento saudável sem ter o mínimo de privacidade? Como faz para ter um jantar romântico ou comprar um presente para seu marido? Como não morrer de saudades da família e querer voltar correndo? Como lidar com os dias de menstruação e TPM? O mundo não é machista?

Nem eu tenho todas as respostas, mas foram coisas que fomos aprendendo no caminho. O que podia ser feito antes da viagem foi feito, principalmente no quesito cuidados pessoais: operei os olhos para não precisar usar lentes durante a viagem, aprendi a fazer a unha e a sobrancelha sozinha, e fiz depilação a laser.

Primeira ida a um salão de beleza depois de dois anos na estrada, em Dubai
Primeira ida a um salão de beleza depois de dois anos na estrada, em Dubai

Quanto à menstruação, depois de estudar todas as alternativas, chegamos a conclusão que era melhor continuar tomando pílula – se fosse preciso, de forma contínua. Depois de cinco meses tomando pílula, quando parei sofri muito. Tive cólicas tão fortes que desmaiei em um restaurante em Lima, capital peruana. Depois disso, chegamos a um acordo de ficaríamos em um hotel nos dias da menstruação se fosse necessário, mas não fazia sentido meu corpo sofrer daquele jeito.

Sobre lugares simples e não muito limpos, precisamos nos adaptar. Nos acostumamos facilmente ao luxo; o difícil é se ajustar a condições piores do que o que você tem regularmente. Ao todo, foram 60 banhos frios e somente um acabou em choro – quando estávamos na Patagônia chilena, com temperaturas negativas.

Sobre o armário, não preciso nem falar que é bem limitado: dois tênis, uma sapatilha, um chinelo e uma galocha para a chuva. Três calças, um short, camisetas, um casacão de frio. Viver com menos é outro desafio, não só no quesito roupas, mas também no que diz respeito a comer fora, comprar tudo o que se compra em uma viagem normal e que, mesmo sem caber no orçamento, acabamos nos convencendo de que estamos viajando, então, podemos. Como viajar agora é nossa rotina, não tem essa.

Último abraço na mãe antes de viajar
Último abraço na mãe antes de viajar

Sobre a carreira e a família, acho que isso realmente foi o mais difícil. Eu saí de casa aos 16 anos para ir morar em São Paulo sozinha e fazer faculdade. Fiz economia na PUC-SP e trabalhei por oito anos na tesouraria do banco americano Citibank. Morava sozinha, tinha minha independência financeira, minha própria rotina, mas o que é a vida de casado se não compartilhar alegrias e desafios?

A minha família tentou me mostrar tudo isso, tudo o que eu tinha conquistado e para me fazer pensar se valeria a pena jogar tudo para o alto. Acho que, lá no fundo, o mais difícil para minha mãe era a quebra da rotina. Mesmo morando a mais de mil quilômetros de distância, nos falávamos todos os dias e essa mudança com certeza não seria fácil.

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Casamento sem grandes brigas, mesmo depois de tanto tempo na estrada

Ao mesmo tempo em que nos afastamos de todos, nos lembramos sempre de que, como casal, temos que nos unir. Hoje, temos um ao outro e, para isso, temos que fazer da viagem uma coisa leve. Estamos aqui porque nós escolhemos se acharmos que a viagem está levando o casamento por água abaixo, temos que repensar. Não tivemos nenhuma briga séria até agora, em 22 meses de viagem. Já passamos da metade, mas acho que o mais desafiador vem agora.

Na América latina, apesar de a segurança ser uma preocupação geral, os países são de língua espanhola e conseguíamos nos comunicar. Estados Unidos e Europa tem uma mega infraestrutura para camping, as cidades são seguras, dormíamos em postos de gasolina sem nenhuma preocupação. Agora, percorreremos África, Ásia e terminaremos a viagem na Oceania.

Em uma oficina mecânica, em algum lugar da Argentina
Em uma oficina mecânica, em algum lugar da Argentina

Sobre o mundo ser machista, tenho que admitir que até agora não tivemos nenhum problema, mas acho que vale dividir também a minha maneira de ver as diferenças culturais. Eu acredito que a partir do momento que eu entro em outro país, preciso respeitar aquela cultura e não impor a minha, então, tento ao máximo me adequar.

Respeitar a cultura local é o primeiro passo para ser respeitada
Respeitar a cultura local é o primeiro passo para ser respeitada

 

No Marrocos, usava véu para cobrir a cabeça na maioria dos dias e, mesmo no interior do país, fazia as coisas sozinha e não senti nenhuma forma de desrespeito. Frequentei oficinas nos buracos mais esquisitos que possam imaginar e o tratamento sempre era de me levar até o escritório, me trazer uma água ou café e oferecer a internet. A partir do momento em que respeitamos a ambiente em que estamos, é muito mais fácil sermos respeitados, independentemente do gênero.

Rachel Paganotto