Tudo que você precisa saber para fazer um cruzeiro pela Noruega
Basta falar em cruzeiros que a gente imagina um transatlântico imponente deslizando por mares cor de turquesa e praias paradisíacas de areias impossíveis. Bem, isso até é um cenário comum para quem navega com destino ao Caribe… Mas e se o cruzeiro em questão fosse durante uma viagem para a Noruega?

Bem, troque a praia estonteante por um litoral recortado de fiordes imponentes e paisagens que parecem ter saído de algum conto mitológico desses que a gente lê em histórias como “O Senhor dos Anéis”. Tanto que basta ver os preços médios dos pacotes de cruzeiros pela Noruega para saber que a experiência é refinada, tanto no quesito experiência quanto no preço, aliás. Mas, por isso mesmo, muitos profissionais do turismo consideram que é “a viagem de uma vida”. Será?
Bom, eu fiz esse cruzeiro – na verdade, parte dele – no verão norueguês em 2013. E sim, foi uma experiência bastante diferente do tipo de cruzeiro que percorreria as ilhas gregas, por exemplo. A paisagem é outra – quase idílica –, mas tão bonita que compensava, e muito, o frio que muitas vezes faz do lado de fora, mesmo no verão.
E, por ser tão diferente, resolvi contar para vocês aqui algumas das peculiaridades desse tipo de passeio e talvez convencê-los a se aventurarem pelas bandas de lá nas próximas férias.
E quando eu digo “lá”, é lá mesmo: é quase no fim do mundo. Mas quem disse que o fim do mundo não é bonito?
Como ir
São várias as empresas que propõe cruzeiros pela Noruega, sendo que o mais comum é combinar alguns destinos noruegueses com outros países na Escandinávia e até Reino Unido – o tour fica assim, “picadinho”, digamos, com um pouco de cada país. Royal Caribbean, MSC e Costa Cruzeiros oferecem pacotes que combinam a viagem a Bergen, na Noruega, com outros cantinhos na Dinamarca, por exemplo. Há ainda, claro, a Norwegian Cruises, que, como o nome já diz, oferece entre seus cruzeiros de inverno rotas que combinam Noruega + Irlanda e Noruega + Islândia. Para quem viaja em grupo e quer ver um pouquinho de cada coisa essa é uma ótima opção.

Porém, quem quer uma experiência 100% norueguesa deve apostar na empresa local que faz esse tipo de percurso: a Hurtigruten.
O nome – esquisito para nós – vem da junção das palavras “hurtig” e “ruten”, que, em norueguês, significa “rota mais rápida”. São navios que percorrem toda a recortada costa norueguesa, partindo da cidade de Bergen (que, aliás, é a porta de entrada para quem quer visitar os fiordes, e uma fofura para se conhecer) até Kirkenes, que fica no extremo do país, a 40 quilômetros da fronteira com a Rússia. Esse trajeto leva sete dias na ida e cinco na volta. E, por percorrer praticamente todos os portos da costa do país, foi durante anos considerada a melhor forma – quando não a única – de deslocamento dos locais que habitavam pequenos povoados.

E é por isso mesmo que a Hurtigruten é tão interessante: porque permite que o viajante chegue a recantos escondidos do país e veja in loco a vida como ela é, do jeito norueguês de ser.
Eu viajei pela Hurtigruten, então, parte das minhas experiências neste post foram descritas com base nela.
Épocas do ano para viajar
Diferentemente dos tours combinados nas grandes empresas de cruzeiros, os navios da Hurtigruten partem todos os dias, independentemente da época do ano ou da temporada. A única diferença é o barco que faz o trajeto, que pode variar de estrutura, mas uma coisa é certa: na hora em que você quiser viajar de cruzeiro pela Noruega, vai ter um tour saindo para te levar!
Isso nos leva à segunda pergunta: quando ir? Bem, você pode ir em qualquer época do ano, mas, na minha humilde opinião, há dois períodos altamente favoráveis para a sua visita. O primeiro é nos meses de verão, como julho e agosto (nesses dois, apenas), em que a região do extremo norte do país, que está acima do Círculo Polar Ártico, não tem tanto gelo e o clima, ainda que imprevisível, é mais favorável para ter belíssimos dias de sol. Além disso, é em julho e agosto que você pode ver o famoso fenômeno do sol da meia noite. 🙂

Cá para nós, o fenômeno o não é só à meia noite. É como se nessa época do ano o sol não se pusesse nenhuma vez, o que deixa o nosso relógio biológico doidinho e desregulado. Como assim, sol às 3h da manhã? Mas a experiência é bem interessante.
Só um aviso: o fato de ser verão na Noruega não quer dizer que não faça frio – faz muito, especialmente para os nossos padrões brasileiros! Por isso, não deixe de ir bem agasalhado.
O outro período excelente para essa viagem é no final de fevereiro, auge do inverno e super frio – mas é quando, segundo o comandante do navio em que eu estava, é quase certo de, em tempo bom, conseguirmos avistar uma belíssima aurora boreal!

Agora, falando sério: o post já poderia acabar por aqui, uma vez que tenho quase certeza de que essas duas fotos já te convenceram a querer marcar suas férias para lá!
Como é o serviço
Por ser uma rota usada essencialmente como transporte pelos locais, os navios da frota do Hurtigruten não são como nós esperaríamos um navio de cruzeiro: não há grande estrutura de entretenimento como campos de futebol, piscina, jacuzzis, boates etc.
Pelo contrário: a aparência externa de um navio da Hurtigruten é a de um navio de serviço – e é assim que a sua tripulação se refere a ele.
Dito isso, não pense que o navio é desconfortável. Não, muito pelo contrário: as cabines são equipadas – e compactas, como em todo navio –, mas confortáveis. Há mais de um lounge em que, às vezes, acontecem alguns eventos, mas sobretudo são reservados para o descanso, e há um restaurante refinado, com um ótimo serviço e especializado na gastronomia local (leia-se: pratos deliciosos de salmão, cod – o peixe que, depois de salgado, conhecemos como bacalhau –, e, às vezes carnes exóticas, como de rena ou baleia, além de opções vegetarianas).
Como não há entretenimento, também não há animadores – mas convenhamos que isso não parece incomodar os viajantes que, em sua grande maioria, são pessoas com mais idade. Além disso, a animação, mesmo, está do lado de fora do navio: nas paisagens absolutamente impressionantes!
Quais são as paradas
O grande trunfo do Hurtigruten está nas suas diversas paradas – ele aporta em quase toda cidade costeira da Noruega, em paradas que levam de alguns minutos a pouco mais de duas horas. Parece muita parada para pouco tempo? Pois só à primeira vista: é possível reservar passeios, atividades e excursões típicas em cada uma delas, e a organização do passeio vai calcular o tempo certinho para poder te devolver, são e salvo, no seu mesmo navio quando ele ancorar no próximo porto.
Com isso, a lista de passeios só vai melhorando: é possível chegar perto das renas na Lapônia norueguesa (na cidade de Hammerfest), fazer passeios de trenó puxado por cães, assistir a um coral cantado na Igreja do Ártico em Tromso, visitar o museu da música em Trondheim…
Sim, é possível realizar aquele velho sonho de criança de fazer um passeio de trenó puxado por cães na Noruega (Crédito da foto: Hurtigruten ASA)
Aliás, eu recomendaria, com gosto, uma esticada – seja por tour ou conta própria – nas cidades de Tromso, Lofoten, Alesund, Trondheim e Bergen. Essa última, aliás, é o ponto de partida ou chegada dos navios, e vale muito esticar pelo menos uns dois dias para conhecer o mercado do peixe, passear pelas ruas e até usar a cidade de base para explorar os fiordes próximos!
A cidade de Alesund é um dos tesouros que você encontra na rota deste cruzeiro; não perca a chance de conhecê-la (Crédito da foto: Clarissa Donda)
Por que é uma experiência fantástica?
Do primeiro fiorde a gente nunca se esquece. E se é encantador ver as paisagens da Noruega só da janelinha, fazer algumas das excursões do Hurtigruten é, sem o apelo comercial da coisa, muito interessante, já que a maioria envolve experiências de verdade e de contato intenso com a natureza e a cultura locais – coisa que, avisamos desde já, é algo que os noruegueses adoram!
O passeio pode ser caro, longo e gelado, mas passar pelo fiorde de Trollfjorden é uma oportunidade que não se pode desperdiçar (Crédito da foto: Hurtigruten ASA)
Então, por exemplo, um dos passeios que eu considero imperdíveis é a visita à Lapland, ou Lapônia, uma região que cobre parte do território de três países (Suécia, Noruega e Finlândia) e onde vive o povo Sami, uma civilização quase indígena, com idioma, artesanato e tradições próprias. E na Lapônia é fácil avistá-los ao lado dos seus animais mais característicos: as renas – que, aliás, são uma fofura de tão bonitinhas.

No mesmo passeio, é possível ainda chegar de carro até o Nord Kapp, que assinala o ponto mais ao norte da Europa continental e ficou famoso por ser onde desbravadores ingleses contornaram tentando buscar um caminho para o mar. Hoje, o ponto insólito e resguardado por muitos paredões de pedra imponentes serve de base para uma enorme e moderna estrutura turística para atender os visitantes que sempre chegam anualmente nos meses de verão, bem como para apreciar a escultura que exibe o formato da terra.

Outros passeios bacanas são a visita ao Trollfjord, um enorme e exuberante fiorde, com uma garganta estreita, por onde passam os navios do Hurtigruten para uma “espiada”. Você pode permanecer no barco e ver o fiorde dali; porém, o passeio mais bacana é seguir com um barco menor e alimentar, no ar, as águias típicas da região que vem tentar pegar pedaços de peixe da sua mão. Outro passeio bacana é uma cavalgada pelas praias das ilhas de Lofoten, um dos lugares mais bonitos da Noruega, onde seus lagos e pântanos possuem águas cristalinas que refletem as montanhas como um espelho. Quando você for, não esqueça de levar a câmera com muito espaço de memória e baterias extras!
E, por fim, há ainda os passeios mais turísticos e menos aventureiros, como tours guiados pelas cidades em questão (o de Bergen e o de Trondheim são imperdíveis), saídas para pesca, visitas a museus dos antigos Vikings, entre outras coisas. Tudo isso com uma paisagem absolutamente estonteante de fundo!

Agora, confesse: no fim das contas, as tais praias paradisíacas nem fazem falta em um cruzeiro como esse, né?