O que fazer em Interlaken, nos Alpes Suíços
Basta uma viagem para a Suíça para a gente descobrir que não é por acaso que os melhores chocolates, canivetes e queijos do mundo vem de lá. A explicação mais lógica é o perfeccionismo e dedicação dos suíços, algo que é parte íntima da cultura do país e se reflete na forma e na experiência de quase todos os produtos e serviços feitos lá.

Mas eu cá tenho um palpite todo pessoal, pelo menos no que tange aos chocolates e queijos: acho que, se é para ser perfeccionista numa coisa, que seja em algo gostoso e que combine perfeitamente com a paisagem linda da região – especialmente ali pela cidade de Interlaken, base turística para visitar os Alpes Suíços.
Ouso dizer, ainda, que programar uma viagem para Interlaken deveria estar na must do list de todo mundo, no mundo todo. A cidade, bem como as pequenas vilas que estão nos seus arredores, parece saída de um conto de fadas, com chalés de madeira encantadores. No caso específico da cidadezinha de Lauterbrunnen, ainda há cascatas que saem magicamente de paredões de montanhas nevados.

Mas, ao contrário do que pode parecer, conhecer as belezas de Interlaken e arredores não é logisticamente difícil: como a Suíça está no coração da Europa e é abastecida por uma fantástica malha ferroviária, há trens diretos de Paris, e uma pequena baldeação (pequena mesmo, de 4 minutos) separa a cidade de Zurique.

Bônus: a viagem de trem é cênica e uma das mais bonitas do mundo – garanta seu lugar na janelinha.
Organizando a viagem
A melhor opção é reservar um hotel em Interlaken, já que a cidade, como o nome sugere, fica entre dois lagos. Ela funciona como uma espécie de hub de transporte, com opções de trens, ônibus e barcos para visitar as atrações nos arredores. É também onde estão as principais agências de turismo, mercadinhos e a maior variedade de restaurantes (aliás, se você gostar de comida indiana, aproveite, pois a influência indiana ali é enorme). Ah, claro: lojas especializadas em chocolates suíços e queijos também não faltam!

Você também pode se hospedar em Lauterbrunnen, Grindelwald e Wengen, que já ficam encarapitadas no alto das montanhas. Elas não têm tantos restaurantes e conveniências ao redor e ainda precisam de mais um trecho de trem para chegar lá.

Mas, por outro lado, é a oportunidade de se hospedar num chalé ultra mega romântico com vista panorâmica dos Alpes. É uma boa troca, né?
Os arredores de Interlaken
Top Of Europe
O Top of Europe é certamente a atração mais badalada: trata-se da estação de trem mais alta do mundo, no topo da montanha e com uma vista panorâmica belíssima dos Alpes – e ainda dos países ao redor.
Chegar lá já é um passeio interessante: é preciso pegar um bilhete de trem especial e subir, com direito a duas baldeações – e, em cada segundo do trecho andado, a vista é escandalosamente bonita. Aqui, sim, lugar na janelinha é obrigatório.

E uma vez lá em cima, não é só uma estação de trem – há muita coisa do lado de dentro e do lado de fora. A chegada ao Top of Europe passa pelo Sphinx Hall, um observatório de vidro com uma bela vista panorâmica para os glaciares, de modo que dá para curtir a vista independentemente do tempo do lado de fora. Em dias de sol e céu claro, a vista límpida é um convite para se aventurar a passear no glaciar Aletsch, que é acessível a pé diretamente da plataforma de observação. O terraço do Sphinx Hall possui também uma vista panorâmica de 360 graus, onde é possível avistar os países vizinhos: França, Alemanha e Itália.
Ainda dentro do “quentinho” do Top of Europe, ao lado do Sphinx Hall, tem uma área chamada Alpine Sensation, que “explica” a história da estação – uma escada rolante leva o visitante por um tour de 250 metros, onde a história do desenvolvimento do turismo nos Alpes Suíços é contada com música, luzes e pinturas.
Mas o mais legal mesmo – e mais frio também – é o Ice Palace, ou palácio de gelo. O nome não é decorativo: a instalação foi escavada em um verdadeiro bloco de gelo a 20 metros abaixo da plataforma onde fica o mirante da estação. Ali, uma porta leva o visitante para corredores e halls gelados e translúcidos – são mil metros quadrados de área escavados à base de ferramentas.

Andar por ali é uma experiência e tanto: além da experiência sensorial de caminhar por túneis escavados em um glaciar, o turista ainda pode ver esculturas de gelo esculpidas ao longo do caminho, que fazem referência a histórias e filmes passados em um cenário “glacial” – por exemplo, estão lá uma escultura do famoso detetive inglês Sherlock Holmes, “morto” em uma catarata na Suíça, e o divertido esquilo Scrat, da série “A Era do Gelo”. Para preservar a estrutura do Ice Palace, a temperatura de seus corredores é mantida artificialmente a 3 graus abaixo de zero, e as paredes de gelo são constantemente trabalhadas para manterem-se seguras.
Brienz
Brienz é uma cidade fofíssima à beira do lago, onde dá para chegar por trem ou por barco. Aviso: de trem é mais rápido, obviamente, mas de barco o passeio é mais “visual”. A dica é ir por um e voltar pelo outro.

Comece o passeio por Ballenberg, um museu de casas fantástico em Brienz. Sim, museu de casas! É uma área enorme em que o museu fica ao ar livre e exibe casas genuínas típicas das pessoas nos séculos 17, 18 e 19. É uma viagem no tempo: é possível ver de verdade como eram as cozinhas, os quartos e as rotinas de pessoas pobres e pessoas ricas no século passado. Por exemplo, as casas ricas tinham paredes grossas para proteger do frio e podiam se dar ao luxo de plantar flores no jardim, já que não precisavam plantar legumes. As pobres possuíam paredes finas, abrigavam várias pessoas num só lugar e possuíam um péssimo sistema de ventilação, e as pessoas tinham que conviver com a fumaça da lareira frequentemente dentro de casa.

Além disso, é possível experimentar a comida da época, já que pães, linguiças e outros tipos de alimento são produzidos diariamente em Ballenberg utilizando-se as técnicas e os instrumentos antigos.

Saindo de lá, aproveite para passear pela cidade de Brienz, que é cercada de fofas casinhas de madeira (e possui uma das ruas mais antigas do país, com casas datando dos anos 1100), e se der, dê um pulinho na Jobin, um museu de esculturas de madeira e de relógios-cuco, que são outra tradição suíça. O museu é uma agradável surpresa: você chega achando que é um passeio sem graça só para vender coisas, e sai encantada com a dedicação e o amor que os artistas têm ao entalhar peças de madeira. Muito, muito interessante!
Atividades radicais
Interlaken é considerada a Meca dos esportes radicais da Europa. Tem para todos os gostos: parapente, ciclismo, trekking, rafting, tirolesa, downhill de bicicleta e até de patinete – sem falar, é claro, do esqui e do snowboard, sucessos na temporada de inverno, que deve começar já no final de novembro e vai até o início de abril.

Em tempo: todas essas atividades são feitas com uma vista fantástica das montanhas e estão abertas sempre que o tempo permitir. No inverno, a dica é seguir para a área de esportes de Grindelwald-First, já conhecida por como uma das melhores para freestyle e que recebeu um novo half-pipe. Quem é iniciante nos esquis pode seguir para as estações em Kleine Scheidegg, que abrem na temporada de esqui o Snow Fun Park, uma área adequada para receber esquiadores de todos os níveis de habilidade.
Mas e agora, no outubro de outono e quando a neve ainda não chegou – mas o frio já? Minha dica é aproveitar o tempo bom e unir o esporte com a paisagem. Parapente, downhill de patinete e tirolesa são ótimos para isso, e dá para fazer os três no mesmo dia – eu fiz!

O parapente pode ser contratado direto no seu hotel e, em geral, eles fazem duas saídas por dia – você pode tentar a que vai logo pela manhã. Se o clima permitir, os instrutores levam os participantes até o alto de uma montanha de onde é feito o salto, e a partir daí você sobrevoa toda a cidade de Interlaken, vendo de uma vista privilegiada a cor fantástica dos lagos e os paredões de montanha ao redor. O pouso acontece no campo central da cidade, em frente ao Hotel Victoria.
Tanto a tirolesa quando o downhill de patinete podem ser feitos no mesmo lugar. Siga para a estação de First, onde há a descida da tirolesa, do alto da montanha até um ponto mais baixo – mais radical impossível! Inclusive, há um ótimo restaurante lá, com vista para o parque.

Seguindo os cable cars que descem das plataformas onde você chega de tirolesa é possível encontrar a estação de descida das patinetes. O downhill é suave e dá para fazer até com crianças maiores que já estejam acostumadas a andar de patinete – e que, obviamente, estejam acompanhadas dos responsáveis. A descida é por uma trilha bem pavimentada que serpenteia as montanhas até chegar na fofa cidade de Grindelwald, onde você devolve os patinetes. A vista é de tirar o fôlego o tempo todo.
Fábrica de queijos em Grindelwald
Grindelwald é uma cidadezinha localizada numa espécie de platô dos Alpes, que tem uma vista “de camarote” para o vale de Jungfrau e uma seleção de casinhas e chalés para se morrer de fofura. Uma das vantagens de fazer um passeio até lá é que uma das principais linhas de trem passa por Grindelwald, de modo que é relativamente fácil chegar à cidade, seja voltando do Top of Europe ou de First.

Numa de suas paradas por lá, pergunte por uma pequena e simpática fábrica de queijos artesanais, que fica escondida atrás de uma lojinha. O dono, simpaticíssimo, tem aquela cara de senhorzinho suíço de filme de conto de fadas. Ele não fala uma palavra de inglês, mas é de uma simpatia intraduzível, e é possível pedir a ele para visitar a produção de queijos – e ainda comprar alguns exemplares da loja dele, deliciosamente recomendados (eu amei os três que experimentei).

Depois de fechar a viagem com chave de ouro, uma coisa é certa: será quase impossível não voltar sofrendo de paixonite aguda pela Suíça.