Expedia Team, em October 28, 2016

Naoshima, uma ilha dedicada à arte no Japão

Qualquer pessoa que visite Inhotim, em Minas Gerais, se impressiona com sua imponência e projeto. Agora imagina uma ilha inteira, de 14,22km2, dedicada à arte? Assim é Naoshima, que fica no Mar Interior de Seto, no município de Kagawa, ao sul do Japão.

A ilha ficou conhecida por seus museus de arte moderna, arquitetura exuberante e esculturas espalhadas por toda sua dimensão. O clima é mediterrâneo, as areias são de areia branca e fofa, a água é cristalina, o verão é quente, o clima é de interior, sendo um ótimo refúgio após as frenéticas Tóquio e Osaka.

Benesse Art Museum
O Benesse Art Museum (Foto: Lalai Persson)

A história com arte nasceu em 1989 com o Benesse Corporation, que buscou na arte o caminho para revitalização daquela bela ilha remota, que encontrava-se judiada. O projeto também serviou como um espaço de experimentação de paisagem natural. Junte-se a isso o renomado arquiteto japonês Tadao Ando, que supervisionou toda a criação.

O resultado deu tão certo, que o projeto se estendeu às ilhas vizinhas, Teshima e Inujima, que também foram revitalizadas com projetos artísticos.

O Benesse
O Benesse Corporation (Foto: Lalai Persson)

Naoshima ganhou seu primeiro museu em 1992, o Benesse House Museum, e desde então coleciona histórias para contar. Atualmente a ilha abriga o Benesse Art Site, um complexo de museus e hotéis, todos com vista para o mar.

A minha chegada foi de balsa no porto Miyanoura saindo de Takamatsu. Já na descida a famosa abóbora vermelha, da artista japonesa Yayoi Kusama, enfeitava imponentemente a ponta do porto. Uma grande escultura, onde é possível entrar e andar por ela. Ao olhar ao lado, outra obra vem de encontro à sua visão, Naoshima Pavilion, de Sou Fujimoto. E esse é só o começo da odisséia que seria o meu dia.

Para circular pela ilha o melhor é alugar um carro ou uma bicicleta elétrica, que foi o meio que escolhi. O passeio é de tirar o fôlego, tanto pela subida, quanto pela paisagem paradisíaca em volta.

Yayoi por Ola Persson
A linda escultura de Yayoi Kusama (Foto: Ola Persson)

A primeira parada foi o Chichu Art Museum, que faz parte do complexo Benesse Art Site. Começar com ele é começar bem. O museu não tem área exterior, pois foi construído abaixo do solo, preservando a paisagem em volta. Olhá-lo de cima não dá a dimensão do que é adentrar em sua porta. Um labirinto de concreto com pé direito altíssimo, jardins, café e salas dedicadas à três artistas, um deles Claude Monet, que inspirou todo o projeto do museu. Foi a partir da série Water Lilies que o projeto foi concebido. Uma grande sala com o chão feito com 700.000 cubos de mármore branco harmoniza com as paredes brancas e as quatro obras primas do artista francês. Para entrar é necessário tirar os sapatos. O chão encanta tanto quanto as pinturas.

Entrada do Chichu Art Museum (Foto: Lalai Persson)
Entrada do Chichu Art Museum (Foto: Lalai Persson)

O segundo artista é o norte-americano James Turrell, o artista da luz. Suas obras são sempre instalações e projeções de luz, que buscam afetar o espaço onde são feitas. Quer se emocionar? Provavelmente será em uma das três obras instaladas no Chichu, Open Field. Entrei numa fila, tirei os sapatos e esperei a minha vez para entrar numa sala com um grupo pequeno de pessoas. Ali uma parede mostrava uma tela retangular rosada. Ficamos na ponta de uma escada olhando fixamente para essa tela. Hora de subir os degraus. Subimos lentamente e nos deparamos com a tela fixa em nossa frente. Olhamos para a assistente do museu, que sinalizou para seguirmos. E sim, atravessamos a tela, que era apenas efeito de luz. É mágico. Você vai devagar, porque acha que pode danificar ou bater em algo. E então segue até o fim de um grande salão branco preenchido de luz rosa. Ao olhar para trás, a escada sumiu. A abertura por onde entrou, também. Uma tela laranja com um frame branco ocupa a parede. Todos ficam desconcertados e retornam para aquela parede. E lá está a passagem para voltar às escadas. Nada foi alterado. Nenhuma luz foi acesa ou apagada. E esse é o jogo de luz maestral que Turrell consegue fazer. Não há como sair de lá como entrou. A emoção vem junto com toda a surpresa que a obra oferece.

Turell (Foto: Lalai Persson)
A obra de James Turell (Foto: Lalai Persson)

Ali, ainda no Chichu, há um grande salão dedicado ao artista Walter De Maria, onde uma esfera de granito com 2,2m de diâmetro ocupa o meio da sala. É também impressionante o conjunto da obra: as esculturas de madeira que a cercam, a arquitetura da sala e o jogo de luz natural, que penetra a abertura do teto.

Na saída, já na estrada, um belo jardim de 1.043m2 foi criado inspirado nos jardins de Monet. É impressionante!

Walter de Maria
O salão com as obras de Walter de Maria (Foto: Lalai Persson)

E assim é Naoshima, cheia de surpresas e emoções. O Benesse Art Site conta com o Benesse Art Museum, que é um museu e também um hotel. É lá que fica a Oval House, que só é visitada por quem se hospeda na própria Oval ou no museu. Eu fiquei de fora dessa. No museu obras de artistas renomados ocupam suas paredes e chão. Basquiat, Keith Haring, Alberto Giacometti, Shinro Ohtake, Christo e Jeanne-Claude, Yves Klein, Cy Twombly, Jasper Johns, Nam June Paie, Frank Stella, Yasumasa Morimura, Richard Prince, Kan Yasuda, Sam Francis, Richard Long entre outros. O restaurante é decorado com a série Flowers, de Andy Warhol. Além da arte, a arquitetura, também toda de concreto e vidro, é de tirar a gente do eixo por tamanha beleza. Da área externa se vê o mar.

Por fora do Chichu (Foto: Lalai Persson)
Por fora do Chichu (Foto: Lalai Persson)

Para chegar eu atravessei a praia e subi um morro a pé. Na praia ainda há a abóbora amarela, de Yayoi Kusama, que é um dos cartões postais da ilha, na beira de píer. Concorridíssima, já que é um dos poucos lugares onde é permitido tirar fotos.

Há por ali bosques, jardins e pequenas praças, sempre com uma obra de arte instalada. À frente o mar azul parece uma moldura perfeita criada especificamente para o lugar.

Já na pequena cidade do outro lado da ilha, no porto de Honmura, ruelas com casas centenárias de madeira se misturam com museus e casas abandonadas que viraram também instalações de arte. Por ali o que ver não falta. Há também cafés, restaurantes e lojinhas para comprar seu souvenir.

Ando Museum
Ando Museum (Foto: Lalai Persson)

Há bastante coisa imperdível, mas o Ando Museum, para conhecer um pouco mais o trabalho do arquiteto Tadao Ando, e o Minamideira, uma casa minimalista que abriga uma quarta obra de James Turrell, Backside of the Moon, são as #temqueir. É mais uma experiência com ilusão de luz que tira você do eixo. Não há uma pessoa que saia de lá sem estar boquiaberta com a experiência que dura exatos quinze minutos.

Depois de rodar essa área da ilha, encher minha alma com arte como nunca vi antes, foi a hora de pedalar de volta para Miyanoura. Já era fim de tarde. Do lado de lá há uma instalação, que é um banho público (e você pode pagar 510 ienes, ou cerca de US$ 6, para tomar um banho por lá antes de embarcar na balsa), a Naoshima Bath. Parada obrigatória mesmo que você não esteja disposto a encarar o banho em grupo.

Pedalando pela ilha (Foto: Ola Persson)
Pedalando pela ilha (Foto: Ola Persson)

Também tem por ali a Miyanoura Gallery 6, que abriga exposições temporárias. A galeria foi construída num antigo pachinko e vale a visita.

Naoshima esbanja charme, assim como seus residentes. O ideal é passar pelo menos uma noite, assim é possível visitar tudo em dois dias com toda a calma que a ilha pede ter. E é imperdível.

Para chegar lá, o melhor é ir sair de trem de Tóquio, Quioto, Hiroshima ou Osaka e ir até a estação Takamatsu. Dá para se hospedar por lá ou dá para se hospedar diretamente na ilha. O mundo ideal é conseguir se hospedar em um dos hotéis do Benesse Art Site, mas são bem concorridos e é necessário boa antecedência para conseguir uma vaga.

Caso tenha mais tempo, não deixe de visitar Teshima, pois o Teshima Art Museum é um dos lugares mais incríveis que já fui na vida.